Introdução à Vida de Maria
Maria de Jesus Peçanha Rodrigues é uma figura emblemática da comunidade de Chapadinha. Com 61 anos, ela compartilha suas experiências sobre as dificuldades históricas e atuais no acesso à água, um recurso essencial que tem moldado a vida local por gerações.
Memórias da Infância e o Rio Ipê
Na infância de Maria, buscar água era uma tarefa diária e árdua. Ela relembra: “A gente ia no rio Ipê, um rio que hoje diminuiu e voltou para 1/3 do que ele já foi um dia. Naquela época, não existia balde de plástico, então usávamos pote de barro para carregar água para casa, para lavar vasilha, arrumar a casa.”
O rio servia não apenas para consumo doméstico, mas também como ponto de encontro para lavar roupas e suprir necessidades da comunidade, incluindo a antiga creche local, onde alunos buscavam água uma vez por mês.
Evolução das Infraestruturas e Desafios Persistentes
Com o tempo, intervenções da prefeitura trouxeram mudanças. Após o casamento de Maria, uma represa foi construída na Grota de Neném de Jovita, mas a água era insuficiente para a comunidade em crescimento. Nos finais de semana, os moradores ainda recorriam ao rio, agora com água menos limpa.
Em 1998, uma nova represa acima de Antônio Quininha prometia melhorias, mas a água chegava suja, frequentemente desviada para irrigação de arrozais por influentes locais.
Em 2008, a chegada da Copanor melhorou a qualidade, mas problemas de distribuição persistiram, especialmente na Grota do Evangelho, causando tensões com os funcionários. Hoje, o relacionamento melhorou, mas a falta de água continua.
Preocupações com o Futuro e o Meio Ambiente
Maria expressa profunda preocupação com o futuro: “A tendência é que em 20 anos nem água mais vai ter. O futuro da nova geração vai ser péssimo.” Ela atribui parte dos problemas ao desmatamento e ao cultivo de eucalipto, que consome a umidade do solo e reduz os rios.
Ela critica a aplicação desigual das leis: “Falam que desmatamento é crime, porém, se for pago, deixa de ser crime. Se pagar a multa não é mais crime não.” Para Maria, a falta de igualdade favorece os ricos, enquanto os pobres sofrem consequências.
Apelo às Novas Gerações
Maria conclui com um apelo aos jovens: “Eu gostaria que cada jovem não tivesse o ‘olho grande’ para ter dinheiro, porque vai vender madeira, plantar café, vai desmatar, vai acabar com o rio, vai cortar uma árvore.” Ela enfatiza a importância de uma vida sustentável e saudável, em vez da busca desenfreada por riqueza.